Apenas um Sonho | por Jonas Madureira


Quando Deus chama, ele faz o que ele chama.
John Wesley

As mãos enrugadas, marcadas pelo tempo e pelo labor incansável, tocam o barro junto à roda. O barro, ainda disforme vai girando numa cadência estonteante. As mãos do oleiro, em movimentos lânguidos e precisos, contornam e dão forma ao caos.
Um pastor se aproxima e observa os movimentos, quase sem respirar, tomando todo o cuidado possível para não atrapalhar o ofício do oleiro. Por um instante, a atenção do pastor se volta para os olhos do oleiro, e não mais para as suas mãos. O olhar do oleiro está fixo na direção do barro. E o pastor perplexo descobre que nada, nem a sua presença ali, é capaz de roubar a atenção que o oleiro dispensa sobre a sua obra.
Ele está totalmente entregue; seu corpo, sua alma e seu coração inclinados, ao mesmo tempo, junto à roda. Mas eis que o barro se desfaz, e se estraga nas mãos do oleiro. Vendo isso, o pastor é tomado por um espanto indizível, não porque o barro se estragou, mas porque o oleiro, mesmo diante da obra arruinada, não desvia o seu olhar do barro. Nada, nem a corrupção do barro, é capaz de roubar a atenção que o oleiro dispensa sobre a sua obra.
Então, o pastor novamente vê aquelas mãos enrugadas, marcadas pelo tempo e pelo labor incansável, tocando outra vez o barro junto à roda.
Enquanto o oleiro continua a sua obra, o coração do pastor escuta a voz de Deus:
Ó minha igreja, será que eu não posso fazer com você o que este oleiro fez com o barro? Como barro nas mãos do oleiro, assim é você em minhas mãos, minha igreja!”.
O rosto do pastor está molhado, seus olhos encharcados, seu cenho caído. Então, perdendo as forças, o seu corpo desaba. O chão é o seu limite. E ali prostrado, ele ora:
Meu Senhor, perdoa-me por acreditar que eu poderia dar conta do barro estragado! Perdoa-me por pensar que seria possível corrigir, com minhas próprias mãos, o barro deformado. Perdoa-me por querer ocupar o lugar que é teu somente. Tu és o oleiro! E eu bem sei, meu Senhor, que não foi por imperícia do oleiro que o barro se estragou. O oleiro é perfeito; nada furta a atenção que ele dispensa sobre sua obra. O problema está no barro, na natureza do barro. Perdoa-me, Senhor, porque tenho olhado só para o barro, tentando corrigi-lo do meu jeito. Tua igreja pode estar estragada, sim, mas ainda bem que ela está estragada em tuas mãos, e não nas minhas! É em tuas mãos que o barro corrompido está e é pelas tuas mãos que o barro estragado voltará para o fogo, para ser novamente purificado e moldado uma vez mais pelas mesmas mãos. Tu és o oleiro! Sou apenas barro, barro em tuas mãos. Quebra a minha vida e me faça de novo! Quero ser o que tu queres que eu seja.”
Tocou o despertador e eu acordei. Era apenas um sonho, mas parecia tão real…

Pr. Jonas Madureira
Igreja Batista Nações Unidas | SP

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